segunda-feira, 11 de novembro de 2013

pobres retalhos (OD)

certa vez Whitman me disse que a peça continuaria
mesmo com as cidades repletas de tolos

eu retruquei que isso não me interessava mais.
afinal,
Kafka certa vez mostrara-me um homem que morreu
silenciosamente
e com fome
e esquecido.  
e antes dele, eu vi um jovem matando uma velha
apenas achando que era o certo,
enquanto outro também perecia
abaixo do mundo
e sem saber como lidar com a superfície

Walt admitiu que mesmo em salas de aula poderiam haver mortes
não discordei
mas disse que por enquanto poucas coisas queimam lá
pelo menos essa era a ideia,
claro.
mesmo assim, fora dela o pêndulo desce
e não há ratos
nem cordas.
porém, caímos na imensidão
e nos damos conta
que muitos caem junto
sem perceber

falhando em tudo,
caímos.
a peça continua
mas sem ser real
nem por fora
nem por dentro.
parece que há sucessona mesma esquina do fracasso.
e para o primeiro,
guarda-se apenas as aparências
enquanto para o segundo 
guarda-se a queda 
e a terrível possibilidade de 
ser

Walt suspirou e abaixou um pouco a cabeça
pareceu evitar o refletir
eu acabara de concordar e discordar

sorri amarelo e olhei para a estante
branca e empoeirada

Whitman me encarou 
e eu disse:
"eu contribuí com um verso". 

 
 
 
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Referências (ou não):

"O me! O life!" - Walt Whitman
"Um Artista da Fome" - Franz Kafka
"Crime e Castigo" - F. M. Dostoiévski
"Notas do Subsolo" - F. M. Dostoiévski
"Morte na Sala de Aula" - Walt Whitman
"Fahrenheit 451" - Ray Bradbury
"O Poço e o Pêndulo" - Edgar Allan Poe
"Tabacaria" - Fernando Pessoa
"Notebooks 1935-1951" - Albert Camus
 




 
 

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