Do início do século XVII até o final do século XIX existia um tipo peculiar de artista; inclusive, eram artistas realmente admirados pelo público que, por sua vez, movimentava-se e pagava entusiasticamente pelo "espetáculo".
Os artistas em questão faziam nada mais, nada menos que ficarem períodos enormes de tempo sem ingerir um único tipo de alimento; nem uma grama de pão, fatia de queijo ou casca de maçã. Nada. Absolutamente nada.
Dessa forma, Kafka buscou para essa história um protagonista desse tipo. O "artista da fome" em questão, no entanto, era um fanático, um ser que tornou-se aficionado por sua arte; o jejum, para ele, tornara-se parte predominante de seu desejo e era aquilo que ele queria aperfeiçoar cada vez mais para atingir a "satisfação".
O problema é que na época de sua atuação, as pessoas não estavam tão interessadas assim; a "moda" já estava enfraquecendo. Por isso, o empresário do protagonista institui que o espetáculo durará "apenas" 40 dias em cada cidade, uma vez que, depois desse "curto" período, o público local começava a se acostumar e a ignorar a situação toda.
Isso frustrava fortemente o artista, que sabia que seu jejum poderia durar muito mais; ao mesmo tempo, sentia-se humilhado por ter que ceder à inimiga da sua arte (a fome).
O tempo passa, ele muda de cidade para cidade, de 40 em 40 dias...
Ein Hungerkünstler (1922) |
Obviamente, chega o dia em que o espetáculo torna-se banalizado e insustentável, já que o público não paga mais para ver aquilo. Assim, o artista da fome busca um novo lugar onde poderia ser melhor apreciado. Ele acaba conseguindo espaço em um circo.
Mesmo assim, ninguém dá mais bola para o jejum; nem mesmo os administradores do circo preocupavam-se com ele. O artista verá que, apesar de ter condições de levar além a sua arte e sentir-se realizado, ele necessita, de certa forma, do seu público...
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Gostei do conto. O artista da fome me pareceu (e descobri que muitas pessoas também pensam assim) uma alegoria para o artista que nunca é compreendido inteiramente pelo público. Por isso, ele deve castrar a sua arte até esta transformar-se em algo palpável para a maioria; no caso, os dias de jejum tinham que ser reduzidos para que não cansasse as pessoas.
A sua luta contra a fome era o que o artista buscava aperfeiçoar, mas essa arte, quando completa, era banalizada e ignorada pela sociedade, pois era apenas uma "moda" da época. Da mesma forma, diversos escritores, pintores, atores e et cetera têm o seu trabalho podado pelo restante do mundo, por causa das nuances e regras do mercado, da moda e do show business.
Foi assim que eu vi tudo isso e talvez eu tenha viajado bastante, mas faz parte.
Enfim, gostei bastante ;)
NOTA: 9 / 10
LIVRO:
"Um Artista da Fome seguido de Na Colônia Penal e Outras Histórias", escrito por Franz Kafka. L&PM POCKET. Tradução: Guilherme da Silva Braga.
Kafka é genial! Muito interessante a análise do artista e da busca incansável pela superação!
ResponderExcluirAbraços, Isabela.
www.universodosleitores.blogspot.com.br
'Brigado \o/
ExcluirAmei seu texto! Ainda não li nenhum conto do Kafka, mas agora vou buscar. Não acho que você viajou não. Mas esse tipo de artista deve ser bizarro, né. Pode-se fazer um paralelo com pessoas que fazem qualquer coisa para ficar famosas? Acho que viajei também. rsrs. Obrigada pela indicação!!!
ResponderExcluirwww.viagensinterliterariasalua.blogspot.com.br
www.literaturaesquizofrenica.blogspot.com.br
Pois é, eu sinceramente fico feliz de que isso não exista mais! xD
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