"A miséria é múltipla. A desgraça do mundo é multiforme. Cingindo o vasto horizonte como o arco-íris, suas colorações são tão variadas quanto as colorações do fenômeno - e também são distintas, e contudo tão intimamente combinadas. Cingindo o vasto horizonte como o arco-íris! Como pode ser que da beleza derivei um tipo de desencanto? - da aliança da paz um símile da tristeza? Mas assim como, em ética, o mal é consequência do bem, igualmente, com efeito, da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança de uma felicidade passada é a angústia do hoje, ou as agonias existentes têm sua origem nos êxtases que poderiam ter existido."
"Berenice" (1835), Edgar Allan Poe
"Sou um homem doente... Sou mau. Não tenho atrativos. Acho que sofro do fígado. Aliás, não entendo bulhufas da minha doença e não sei com certeza o que é que me dói. Não me trato, nunca me tratei, embora respeite os médicos e a medicina. Além de tudo, sou supersticioso ao extremo; bem, o bastante para respeitar a medicina. (Tenho instrução suficiente para não ser supersticioso, mas sou.) Não, senhores, se não quero me tratar é de raiva. Isso os senhores provavelmente não compreendem. (...)"
"Notas do Subsolo" (1864), Fiodor Dostoiévski
"No quarto acanhado e escuro, no chão, ao pé da janela, meu pai está deitado, vestido de branco e extraordinariamente comprido; os dedos dos pés descalços estão abertos de um jeito estranho, os dedos das mãos carinhosas, deitadas em sossego sobre o peito, também estão retorcidos; seus olhos alegres estão pesadamente cobertos pelos discos pretos das moedas de cobre, o rosto bondoso está escuro e me assusta, com os dentes arreganhados de um jeito ruim."
"Infância" (1913-1914), Maskim (Máximo) Górki
"Era a tarde do meu octogésimo primeiro aniversário e estava na cama com meu veado quando Ali anunciou a visita do arcebispo.
- Muito bem, Ali - falei com voz alquebrada, em espanhol, sem abrir a porta. - Leve-o ao bar e lhe dê um drinque.
- Hay dos. Su capellán también.
- Está certo, Ali. Dê um drinque ao capelão também.
Há 12 anos me aposentei da profissão de romancista. Contudo, serão obrigados a concordar, se conhecem minha obra e se derem o trabalho de reler agora a primeira frase, que não perdi nada da velha habilidade para montar a chamada abertura de impacto. (...)"
"Poderes Terrenos" (1980), Anthony Burgess
"No século XVIII viveu na França um homem que pertenceu à galeria das mais geniais e detestáveis figuras daquele século nada pobre em figuras geniais e detestáveis. A sua história é contada aqui. Ele se chamava Jean-Baptiste Grenouille e se, ao contrário dos nomes de outros geniais monstros como, digamos, Sade, Saint-Just, Fouché, Bonaparte etc., o seu nome caiu hoje no esquecimento, isto certamente não ocorreu porque Grenouille tenha ficado atrás desses homens das trevas mais famosos em termos de arrogância, desprezo à raça humana, imoralidade, ou seja, em impiedade, mas porque o seu gênio e a sua única ambição se concentravam numa área que não deixa rastros na história: o fugaz reino dos perfumes."
"O Perfume - História de um Assassino" (1985), Patrick Süskind
Ótimas dicas! Sou louca para ler "O Perfume". Sobre as edições, essa coleção da "Clássicos Abril" é linda e super leve. Eu adoro!
ResponderExcluirAbraços, Isabela.
www.universodosleitores.com
Que bom que gostou! "O Perfume" é MUITO BOM, melhor que o filme, eu diria... E, sim, essas edições da Abril são ótimas, inclusive estou tentando completar a minha!
ExcluirObrigado pela visita e pelo comentário :D
Viva! Acabo de acessar e ja sou seguidor...Tudo literatura "Biscoito fino" aliás croiassants...parabens pelo gosto literário....quero ler mais muito mais aqui..Poe é imortal...! Viva! Vou deixar o link pro meu humilde blog http://textomastigado.blogspot.com.br/
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