domingo, 18 de agosto de 2013

CONTO POR CONTO #2: "Josefine, a Cantora ou O Povo dos Ratos" (Franz Kafka)

http://www.lpm-editores.com.br/v3/Imagens/um_artista_da_fome.jpgEstá se tornando cada vez mais evidente para mim que "Um Artista da Fome..." trata, em sua maioria, do papel do próprio artista e dos outros à sua volta que avaliam sua arte e julgam seus atos quanto produtor dela.


"Josefine, a Cantora ou O Povo dos Ratos" trata de uma sociedade onde todos são praticamente iguais, com vidas baseadas no trabalho, infâncias encurtadas e adultez extremamente prolongada. De fato, seria algo bem "cinza", por assim dizer.


Josefine é uma integrante dessa sociedade e canta para todos dali; seu canto, na verdade, é algo muito mais próximo ao assobio do que frases líricas. Além disso, a qualidade de sua voz/assobio ainda assim é questionável.


Ninguém parece acreditar que ela realmente tenha qualidades musicais excepcionais. Mas isso seria exatamente a noção do "povo dos ratos", certo? Todos iguais. 


A voz dela parece não diferir muito das vozes do restante da população. Mesmo assim, todos param tudo que estão fazendo e apreciam todo o mini-concerto que Josefine executa. 


O problema é que Josefine, com o tempo, começa a "se eleger" como um indivíduo mais importante do que os outros da sociedade. Ela faz exigências, querendo receber, sem pagar nada, recursos para sua sobrevivência. Entretanto, o povo dos ratos não aceita isso. Eles entendem a presença de Josefine no cotidiano de todos, mas isso não os faz pensar que ela tenha mais valor a ponto de ser inteiramente sustentada.


Com esse esboço, Kafka desenvolve toda uma história acerca da carreira da cantora e como seu público, seu povo, lidou com a sua soberba.


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Achei interessante a ideia da história. A ideia me remeteu diretamente ao "Primeira Dor" - no qual o artista é superestimado - e a "Um Artista da Fome" - no qual o artista é subestimado.

Entretanto, "Josefine" não é sobre um artista superestimado ou subestimado. 


http://www.emptymirrorbooks.com/mcclure/mmbiblio/josephine.jpg
Peça baseada na história
A cantora na história serve como uma válvula de escape para o povo; eles conseguem isolar-se um pouco de suas obrigações através do canto/assobio de Josefine. Ao mesmo tempo, eles consideravam-na apenas como mais uma parte de um todo e não como uma líder ou salvadora. 

Por isso a recusa em suprir todas as suas necessidades: ela não era melhor que ninguém ali e eles poderiam viver sem sua arte; eles arranjariam um jeito. 


Seria, como li em outros lugares, um sistema "comunista" de ser, onde o artista não seria superior ao seu público e sim igual. (tanto que, como já disse, Josefine não parecia ter uma voz diferente das demais)


O problema é que a narrativa é realmente prolixa, com todas suas descrições da sociedade e os diversos devaneios com coisas menores e nem tão importantes, assim... chega a cansar bastante em certos pontos...

Mas antes da nota, uma observação curiosa e um pouco triste: 

Essa foi a última história escrita por Kafka. Por ironia (ou não), a personagem principal da história é uma cantora e, na época, ele já estava completamente sem voz por causa da tuberculose que acabou matando-o... :/







 NOTA: 7,5 / 10







LIVRO: 
"Um Artista da Fome seguido de Na Colônia Penal e Outras Histórias", escrito por Franz Kafka. L&PM POCKET. Tradução: Guilherme da Silva Braga.   

3 comentários:

  1. Oi Carlos,
    tudo bem?
    Entrei no seu blog pois um nome me chamou a atenção: "Kafka". Eu sempre leio um livro até o final, mas em toda minha vida, apenas dois eu não levei adiante,e, um deles, foi "A Metamorfose" de kafka. Acho que era muito nova, imatura para esse livro na época.
    Sua resenha me deixou sem fala, você escreve muito bem. Parabéns!!!
    E essa história parece ser bem intensa. Quem sabe não dou uma outra chance para ele?
    Já estou te seguindo.
    Beijos.
    Cila- Leitora Voraz
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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    1. Ah, obrigado :D

      Kafka com certeza não é a coisa mais... hã, "fácil" digamos... mas vale a pena tentar ;)

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    2. Oi Carlos
      Comprei ontem o livro "Josefina a cantora" , gosto muito de Kafka, li várias coisas dele. Ele era uma pessoa de personalidade angustiante, como eu, falava muito da morte e da insignificância de algumas pessoas, a sociedade onde viveu, na época, o sufocava,é tanto que morreu de tuberculose, problemas de se adaptar ao mundo em que vive. Dificuldades para conviver com a hipocrisia, a falsidade, coisas que mais tem no mundo, naquela época, hoje e sempre. É duro, precisa-se de uma válvula de escape para poder sobreviver um pouco mais feliz. abraços.

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