terça-feira, 6 de agosto de 2013

CONTO POR CONTO #2: "Primeira Dor" (Franz Kafka)

http://www.lpm-editores.com.br/v3/Imagens/um_artista_da_fome.jpgComo você, leitor, pode constatar pelo título do post, estou começando mais um CONTO POR CONTO. Dessa vez, tratando de um autor clássico que até hoje é bem discutido nos círculos literários por aí.


Sim, estarei tendo a minha primeira experiência de leitura da obra de Franz Kafka, começando por "Um Artista da Fome seguido de Na Colônia Penal e Outras Histórias". (podia ser mais resumido esse título, né?)


Bom, a primeira história do livro se chama - como você pode ver também no título do post - "Primeira Dor". (Link para o texto na íntegra)


Trata-se de uma fábula bem curtinha e objetiva sobre um trapezista que, em certo ponto de sua vida artística, decidiu literalmente viver lá em cima, no seu local de trabalho, o trapézio.


Por ser muito talentoso e precioso para a companhia da qual participava, os empresários o deixaram levar esse estilo de vida, sendo abastecido com tudo que precisava através de vasos que eram lhe enviados pelos empregados lá de baixo. Ele mantinha pouquíssimo contato com outras pessoas e passava os dias e os espetáculos inteiros lá em seu refúgio.

http://www.czech.tv/images/Cities-Prague-Attractions-Franz%20Kafka-1.jpg
Franz Kafka (1883 - 1924)

Obviamente, ele tinha que descer para as viagens para o próximo destino do espetáculo. Entretanto, até nisso ele tinha regalias que eram concedidas pelo empresário.



A parte realmente interessante da fábula é perceber que o trapezista ficou tão imerso naquele mundo solitário e cheio de regalias a um ponto em que ele, nas viagens de trem, deitava na rede do compartimento de bagagens como uma forma de não se afastar da sua realidade. Ele adaptou sua existência a um estilo de vida completamente inconvencional e obsessivo quanto a sua profissão.



Durante uma dessas viagens, o trapezista diz que quer agora mais um trapézio, precisa de dois deles. O empresário concorda e tudo parece certo. 

Mas o trapezista, deitado na rede das bagagens, começa a chorar compulsivamente porque não entendia como havia vivido até aquele dia com apenas "uma única barra em mãos".  O empresário o acalma e ele dorme.


É legal que você termina de ler e acha necessário refletir mais um pouco sobre tudo aquilo. Essa coisa de entender o real significado do que foi lido, como algo metafórico/filosófico, sempre me interessou.

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Então, aí vai MINHA interpretação:

Como já disse, o trapezista apegou-se ao "mundo do trapézio", isolando-se quase completamente dos demais e nutrindo uma certa superioridade ao criar uma necessidade nos empresários e, por isso, recebendo regalias. Sua realidade e sua subjetividade foram tomadas pelo trapézio.

Entretanto, depois de um tempo, ele começa a sentir sua realidade opaca, escassa, insuficiente. A "primeira dor" do trapezista foi basicamente ver que sua vida não estaria inteiramente completa

Porém, ao invés do "mais esperado" acontecer - ou seja, descer do trapézio e procurar o que faltava no restante do mundo - ele decide que o necessário mesmo era outro trapézio.

De certa forma, sua vida tornou-se tão obsessivamente centrada ali naquele aparelho que ele projeta a falta que está sentindo na figura de algo já conhecido (outro trapézio). Isso mostraria (de uma forma bem extrema, eu diria) como nossa subjetividade pode moldar nossas necessidades.

E, como no fim o empresário aponta, será que essa "falta" do trapezista não apareceria novamente? Não evoluiria? E se um dia mais um trapézio não der conta do recado?






NOTA: 8,5 / 10 


LIVRO: 
"Um Artista da Fome seguido de Na Colônia Penal e Outras Histórias", escrito por Franz Kafka. L&PM POCKET. Tradução: Guilherme da Silva Braga. 

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