Como quinta e última história desse curto CONTO POR CONTO #2, temos uma história bem conhecida do nosso escritor tcheco favorito, Franz Kafka.
Ela se chama "Na Colônia Penal", mas é bem provável que você já sabia disso por causa do título; mesmo assim, sigamos com o protocolo...
Ela é a história mais antiguinha dessa coletânea, tendo sido escrita em 1919. Da mesma forma, pelo o que eu entendi, ela também é a história que se passa em um momento mais antigo; pelas minhas chulas deduções, no máximo no final do século XIX.
Isso é meio óbvio, uma vez que consideramos que os personagens falam francês e tudo ocorre em... bem, em uma colônia penal, oras...
Mas, você me pergunta (ou não): "Afinal, que diabos é uma colônia penal??"
Para você, leitor sem tal informação, uma colônia penal era um território pertencente a algum império colonial onde eram exilados criminosos; lá, eles deveriam se submeter a trabalhos forçados e eram praticamente servos dos capitães, oficiais e comandantes que administravam o local.
Nesse cenário, conhecemos nosso protagonista, um explorador convidado a visitar a colônia e presenciar a execução de um dos prisioneiros de lá. A execução será administrada por um oficial e pela terrível máquina que faz todo o "trabalho".
Acontece que o explorador na verdade estava lá para dar sua opinião ao novo comandante da colônia sobre esse tipo de punição macabra. De fato, o único que ainda acreditava naquele método era o próprio oficial já citado.
Obviamente, o explorador fica chocado com tamanha selvageria daquele processo; o mais absurdo, entretanto, era o seguinte: os acusados dos crimes nunca tinham direito à defesa, ou seja, sem contra-argumentos ou segundas versões. O sujeito era simplesmente encaminhado à morte lenta e dolorosa.
A história, então, gira em torno dessa situação, onde o explorador tenta entender os motivos insanos que fazem o oficial achar aquilo tudo correto e justo.
Tudo encaminha-se, enfim, para um desfecho que começa "poeticamente perturbador" e termina de forma grotesca...
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In der Strafkolonie (1919) |
Na minha visão, o conto é, em sua grande parte, uma crítica descarada à justiça cega apenas de um olho que era aplicada frequentemente nesses locais, levando os internos a uma desgraça infinitamente maior que aquela que já viviam.
Em parte menor, é uma crítica também ao apego cego e desenfreado que algumas pessoas têm quanto aos modos antigos e ultrapassados de se resolverem as situações. Isso fica evidente na figura do oficial, que é o único que ainda tem coragem de apoiar aquilo tudo.
Também podemos ver talvez uma crítica referente à modernidade, que usa as máquinas para resolver seus maiores problemas, como uma espécie de divindade.
Bom, eu realmente gostei bastante. Consideravelmente mais dinâmico que as outras histórias de Kafka.
Foi o melhor conto do livro e um ótimo jeito de fechar a sua leitura. Ainda, o fato do horror pairar por toda história e "explodir" no final deu um toque interessante ;)
NOTA: 9,5 / 10
LIVRO:
"Um Artista da Fome seguido de Na Colônia Penal e Outras Histórias", escrito por Franz Kafka. L&PM POCKET. Tradução: Guilherme da Silva Braga.
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