terça-feira, 11 de junho de 2013

CONTO POR CONTO#1: "Esperidião" (Episódio) (George Sand)

Lá, no longínquo século XIX, quando as fotografias eram em preto e branco e sem filtros do Instagram, George Sand já estava inovando, sendo uma feminista antes mesmo de existir o "movimento" feminista, e publicando textos contra a sociedade ultra-machista da época. 

Sim, George Sand era uma mulher. Na verdade, era o pseudônimo de Amandine Aurore Lucile Dupin. Não tenho certeza disto, mas acho que o pseudônimo era justamente para fins comerciais, uma vez que poucas pessoas teriam a coragem de ler histórias de cunho feminista naqueles anos e menos ainda se fossem escritas por alguém do sexo feminino.

Ainda por cima, Sand ficou meio famosa também por ter uma vida amorosa deveras "agitada", com nomes como o músico clássico Chopin e até uma atriz francesa e famosa.

O século XIX, infelizmente, não me parece ter sido a época mais adequada para ela viver...
  
De qualquer forma, em 1839, ela escreveu uma novela chamada "Esperidião". Em "Contos de Horror do Século XIX", consta um pequeno episódio da narrativa inteira. Obviamente, ele é um dos mais assustadores.

Nesse "parte da história", acompanhamos o monge Aléxis que desce às catacumbas de uma igreja para visitar a tumba de seu mestre e, pelo que eu entendi, buscar mais "repostas".
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJX9fbrqJ5BlssVDu-3YUm1o8aq8EoWRc2nUbLXGNJzIBcqgvh9Mr2JjDlOlSKMNosnyx8QthUpYcwSwmVLgd8DE11aomXLKGSTKZzpNoeiDnODbG_gI0UuiJ0U_1GIjgbHteOOVL0maKX/s1600/george.jpg
George Sand (1807 - 1876)

É difícil falar sobre esse episódio, na verdade. Só dá pra dizer que tudo de importante na narrativa está na descrição dessa macabra tumba, onde o monge começa a testemunhar cenários infernais e torturantes que, de certa forma, caracterizam um terror mais explícito e sangrento que o convencional horror voltado mais para fatores psicológicos.

A autora tenta chocar e até consegue isso razoavelmente bem, pois as cenas alteram-se com certa velocidade, esperando apenas você absorver toda a desolação ali presente para depois transformar tudo em algo novo e mais chocante.    

Tudo culmina então em uma interpretação interessante dessas visões de Aléxis, demonstrando e explicando os simbolismos presentes naqueles cenários macabros. Surpreendentemente, no final das contas, aquelas visões são interpretadas como uma crítica e uma representação da própria Igreja do monge Aléxis, da religiosidade e da fé cega que move e corrompe diversos "homens de Deus" extremamente dogmáticos.

De fato, tudo me surpreendeu um pouco: o macabro, a história e até mesmo a interpretação final de tudo.                              

Por ser diferente e trazer elementos mais explícitos que o horror da época, considero a narrativa boa, mesmo não me instigando a ponto de querer ler toda novela "Esperidião"...






NOTA:  8  /  10






 LIVRO:
Contos de Horror do Século XIX (2005), organizado por Alberto Manguel. Companhia das Letras. Tradução: conto traduzido por Milton Hatoum.  

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