domingo, 9 de junho de 2013

CONTO POR CONTO#1: "Halá Branco" (Lamed Schapiro)

A Segunda Guerra Mundial até hoje é um dos acontecimentos históricos que mais desperta a curiosidade de muitos, apesar de constituir-se de episódios terríveis e exemplos de sadismo. Obviamente, um dos principais pontos nesse assunto é a cruel perseguição à população judaica, o Holocausto.

Entretanto, poucos são aqueles que têm consciência de que o povo judeu já havia sido perseguido diversas vezes antes dessa guerra. Uma dessas perseguições, por exemplo, ocorreu ainda no século XIX no território da antiga Rússia comandada por um czar. 

E foi justamente na Ucrânia, um dos locais mais afetados por isso tudo, que nasceu o nosso querido e desconhecido por mim até pouco pouco tempo, Lamed Schapiro, autor do conto. Ele inclusive teria presenciado com seus próprios olhos um pogrom (ataques de violência em massa contra judeus e comunidades/templos judaicos). Depois foi convocado para prestar serviços à um dos causadores dos pogroms: o exército Russo.

Com essas experiências é de se esperar algo bom da história, certo?

shapiro
Lamed Schapiro (1878 - 1948)
No conto, acompanhamos a trajetória de Vassil, um jovem que acaba sendo convocado também para o exército czarista. Chegando lá e passando por todas experiências humilhantes e violentas que o exército da época podia proporcionar, ele acaba, aos poucos, reparando numa constante propaganda anti-semita que começa a ser espalhada entre os batalhões. 

Quando menos percebe, Vassil está com sua mente tomada por pensamentos violentos acerca da comunidade judaica e sua sede por sangue semita começa a crescer na medida em que ele e seu regimento avançam em direção às pequenas aldeias para causar o terror e a destruição aos inocentes judeus.

Antes que me esqueça, o halá (mais conhecido por "challah") é uma espécie de "pão judaico". No conto, é o único alimento judeu que Vassil aprecia e que, no final da história, vai ter um valor simbólico na representação da decadência moral do personagem. 

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FINAL (SPOILER): Ensandecido e morto de fome, o soldado Vassil participa de um pogrom, invade a casa de um casal judeu e, em seu estado quase de inanição, espanca e canibaliza a mulher por acreditar que sua pele clara era feita de halá branco. 
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A leitura foi fácil, simples e bem envolvente também por mostrar os aspectos de toda a "guerra" criada contra o povo judeu. Entretanto, o que mais chamou a atenção foi o fato de que o protagonista, Vassil, parece uma espécie de Forrest Gump. Sim, a princípio ele é todo inocente (ao ponto de ser meio tapado, digamos), mas, ao receber um constante condicionamento mental no exército, ele acaba se tornando violento e preconceituoso (diferente, claro, do Forrest).

Parece que Vassil seria o exemplo de uma pessoa "boa" que, pela influência de uma instituição repleta de princípios causadores de caos, perverte completamente seu comportamento.




NOTA:  9 / 10




LIVRO:
Contos de Horror do Século XIX (2005), organizado por Alberto Manguel. Companhia das Letras. Tradução: conto traduzido por Jacó Guinsburg.

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