quarta-feira, 12 de junho de 2013

CONTO POR CONTO#1: "O Travesseiro de Penas" (Horacio Quiroga)

Horacio Quiroga teve uma vida um tanto complicada. Um sujeito vivente e que fazia mil coisas diferentes, com compromissos e histórias sempre disponíveis por conta de suas aventuras.

O escritor uruguaio, entretanto, foi marcado por grandes perdas em sua vida, como a morte de um amigo de infância muito próximo e a de sua primeira esposa, envenenada ao ponto agonizar durante dias.

Tudo culminou em seu suicídio em 1937.

Vida conturbada à parte, o conto que acabei de ler e que fez minha cabeça explodir parece ter sido inspirado nas tristes experiências do próprio Quiroga.

Na história, Alicia e Jordán estão casados há pouco tempo. Ambos se amavam e tudo o mais, mas ele tinha certa dificuldade de demonstrar isso e, consequentemente, ela acabava se tornando um tanto insegura quanto a relação. 

De qualquer forma, tudo estava dando certo no início. Alicia acabou aderindo à uma vida caseira, esperando pacientemente seu marido voltar para casa depois do dia de trabalho. Para passar o tempo, ela criou o hábito de dormir durante esses períodos longos de ausência do seu cônjuge.

Mas Alicia está ficando mais magra, mais pálida, mais fraca. Em um dos poucos momentos que Jordán consegue externalizar seu amor, ao ver a situação de sua amada, ele tenta consola-la.

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"El Almohadón de Plumas (1907)"
Não adianta. Ela cai de cama e, mesmo com o auxílio dos médicos, nada parece funcionar para reverter esse quadro e nem para explicar a causa de seu definhamento.

Novamente, me sinto na difícil situação de resenhar uma história muito curta para isso ("O Travesseiro de Penas" tem praticamente 4 páginas apenas). Então, se for para não dar spoilers, só posso dizer que o inevitável acontece: Alicia morre. Entretanto, a verdadeira questão proposta ainda está aberta: qual foi a causa verdadeira de sua morte?      

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FINAL (SPOILER): Jordán descobre que algo estava literalmente consumindo Alicia. Dentro do seu fiel travesseiro de penas, havia uma espécie de parasita vampiresco muito presente em aves. Ele se instalou no travesseiro e sugava o sangue da cabeça da pobre moça até que se desenvolvesse em um ser grotesco, enorme e pesado, mas que ainda ficava camuflado pelas penas do travesseiro.
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Horacio Quiroga
Horacio Quiroga (1878 - 1937)
A história me lembrou, de certa forma, de três contos de horror clássico de Edgar Allan Poe: "Ligeia", "Berenice" e "Morella". Os três, como "O Travesseiro de Penas", tratam sobre esposas que acabam tendo um fim terrível, causando dor e sofrimento (e até loucura) a seus maridos. 

(Inclusive, para os três contos citados do Poe, eu tenho um nome mais especial: "As Três Esposas de Poe - uma trilogia de horror conjugal, mas sem conexão entre volumes.")   


Pela sua brevidade, intensidade e pelo seu final, considero esse conto excelente e recomendadíssimo.





NOTA: 10 / 10






LIVRO:
Contos de Horror do Século XIX (2005), organizado por Alberto Manguel. Companhia das Letras. Tradução: conto traduzido por Sérgio Molina.  

4 comentários:

  1. Poxa, eu não gostei tanto assim do conto. Esperava mais, talvez pq li a resenha antes do conto - O mesmo aconteceu com "A mão do macaco". Enfim, ainda bem meu travesseiro não é de penas. =D

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  2. Achei o conto praticamente igual ao Ligéia, isso me deixou um pouco decepcionada,apesar de curtir o Quiroga.

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