sábado, 8 de junho de 2013

CONTO POR CONTO#1: "A Casa de Bulemann" (Theodor Storm)

Ai, ai...

A velha e sinistra casa que está sempre trancada e, aparentemente, é alvo de assombrações... Scooby-Doo? Talvez "A Casa Monstro?"

Não, não.

Essa ideia de base talvez não seja a mais original do mundo nos dias de hoje, tratando-se do universo do horror. Mas há de se admitir que no século XIX essa premissa não era tão manjada assim e uma variedade imensa de escritores podia fazer uma variedade imensa de histórias como essa e, com certeza, seriam prestigiadas e, possivelmente, consideradas boas até hoje. 

Além disso, há o fator claro de que, no século XIX, casarões escuros e abandonados (às vezes até com algumas características góticas) estavam muito mais presentes no cotidiano das pessoas da época, tornando o medo e a angústia mais "reais".

Ajuda também, obviamente, se o autor consegue criar todo um contexto, uma história para girar em torno da terrível casa, mostrando quem a habitava através de "pinceladas" sutis de crueldade para dar vida ao personagem principal. 

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Theodor Storm (1817-1888)
O escritor alemão, Theodor Storm, conseguiu fazer isso.


Ele nos traz a história do frio e detestável sr. Bulemann, dono do casarão sombrio construído pelo seu também detestável pai. Bulemann vive isolado, apenas na companhia de seus dois gatos e de sua empregada ("serva" também serviria) sra. Anken. 



O mal-humor e a grosseria de Bulemann ficam logo conhecidos por toda a vizinhança, que teme até mesmo passar perto da porta da terrível casa. Um dia, entretanto alguém bate à porta. No caso, é a meia-irmã de Bulemann que, estando praticamente miserável, vai pedir ajuda ao irmão para supostamente salvar a vida de seu filho (sobrinho de Bulemann). Ele nega automaticamente a ajuda, ainda por cima ferindo gravemente o próprio sobrinho doente.


Poucos dias depois, sabe-se do fim trágico da pobre criança. O perverso dono da casa naturalmente não dá a menor bola para o fato. Entretanto, é aí que coisas estranhas começam acontecer.

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"Bulemanns Haus" (1864)

Como que por uma maldição pelo mal que causou à própria irmã, Bulemann percebe algo bizarro acontecendo aos seus tão estimados gatos. Aos poucos, eles estão se transformando em criaturas estranhas, maiores e mais perigosas enquanto ele próprio começa a entrar em uma terrível armadilha, onde ele deverá lutar para que isso não sele o destino decadente da casa.





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SPOILER (FINAL): as criaturas-gato prendem Bulemann dentro da casa. Por exaustão e inanição, ele sucumbe à vigia das terríveis bestas. Entretanto, ao invés de morrer, Bulemann continua vivo, mas seu corpo começou a se encolher e se transformar em algo pequeno e deformado, em algo grotesco, pífio e frágil que o faz reconsiderar suas atitudes passadas na sua própria casa, sua prisão. 
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A narrativa desenvolve-se com muita facilidade e a história é intrigante, nos incitando a mergulhar de cabeça no universo estranho criado dentro daquele casarão. É interessante também o fato do autor trazer mais de uma perspectiva de tempo durante a história. Começamos no "presente", passamos para um "passado muito distante", então um "passado não tão distante" e por fim retomamos ao "presente" inicial.


Ah, e o final... bom, só posso dizer que eu, com certeza, não esperava por aquilo. xD





NOTA: 9 / 10





LIVRO:
Contos de Horror do Século XIX (2005), organizado por Alberto Manguel. Companhia das Letras. Tradução: conto traduzido por Modesto Carone.

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