sábado, 7 de setembro de 2013

CONTO POR CONTO #3: "Como Nunca na Vida" (Evelio Rosero)

A segunda história a integrar o CONTO POR CONTO #3 é de um escritor latino-americano. Admito que praticamente desconheço qualquer coisa que seja a respeito da literatura latino-americana; até mesmo da literatura brasileira tenho certos "desfalques" na minha experiência como leitor. Claro que esse cenário, mas até lá...


O fato é que o escritor do conto é um colombiano bem conceituado no cenário literário do país. Evelio Rosero inclusive já ganhou prêmios, pelo que me consta a parca pesquisa que fiz, no âmbito internacional: o Independent Foreign Fiction Prize, pelo seu livro, publicado no Brasil pela editora Globo, "Os exércitos".


Dada essa dica aí, vamos ao nosso conto...


Com mais ou menos 25 páginas divididas em 10 curtos capítulos, "Como nunca na vida" traz uma história, na minha visão peculiar e um tanto quanto triste. Trate-se da trajetória da jovem equatoriana Fenita, uma mulher que teve que casar a contra gosto com um homem rico, poderoso e extremamente ortodoxo, religiosamente falando. 


Conhecemos ela, o marido e os dois filhos no momento em que estão fazendo uma viagem de férias a Florença, Itália. Fenita sofre mais que nunca por estar presa numa relação onde sempre está sendo vigiada e "presa" por seu marido opressor e as duas crianças (extremamente parecidas com o pai). 


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Evelio Rosero (1958)
Ela chora quase todos os dias por causa disso e a única coisa que os outros fazem é comprar mais um vestido para que ela se acalme; em nenhum momento parecem conversar ou tentar entender o que está acontecendo. 


Em um passeio, entretanto, ela separa-se propositalmente do resto da família e decide olhar os "outros homens", algo que era severamente proibido com o marido tirano por perto. Assim, ela acaba se envolvendo apaixonadamente com um grego que conhece em um bar.



Porém, as coisas nem sempre são o que parecem ser (leia o conto para saber). 


Enfim, Fenita volta para o Equador com um circo de pulgas atrás da orelha: ela não tem certeza se foi observada pela família enquanto estava com o grego nas férias e essa preocupação, junto com o fato de voltar para sua "prisão familiar", atormenta-a tremendamente até o ponto em que começa a sentir-se doente e sua sanidade começa a tomar um caráter altamente questionável... 


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FINAL (SPOILER): Fenita, extremamente febril e arisca em sua cama, recebe uma ligação do "grego", chantageando-a a encontrar-se em um local escondido. Ela se revolta, mas percebe que precisa dele para sobreviver, afinal, foi ele o único pôde fazê-la feliz... Assim, ela prepara-se para ir e, durante o banho, percebemos que ela agora está completamente insana com a ideia do encontro: ela começa a delirar e chega a cortar todo o cabelo sem nenhum motivo aparente. Ela sai do banho e os filhos e o marido estão esperando: eles sabiam de tudo. Eles atacam ela. Ela não revida e morre. 

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É um conto interessante. Ele apresenta uma mistura curiosa de elementos de reflexão, erotismo e, por fim, uma dolorosa insanidade. Por essa variedade, a narrativa possui um toque que, para mim, como já disse antes, foi bem peculiar.


Como também já disse antes, o conto traz uma certa tristeza e uma melancolia significativa. Sentimos pena de Fenita por sua vivacidade que poderia ter ser sido aproveitada, mas não foi por causa do matrimônio indesejado. 


Os diversos empecilhos que ela encontra para ser feliz acaba contribuindo para o desequilíbrio que se instala depois de tudo... 


Por fim, é um conto diferente. A escrita não é das mais difíceis e a narrativa aferra-se aos sentimentos da protagonista (como devia de ser).


Diferente, triste e interessante. É um bom conto.







NOTA: 8 / 10







LIVRO: 
"GRANTA em Português (10): Medidas Extremas". Alfaguara. Tradução: Maria Alzira Brum Lemos.     

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