Manicômios, hospitais psiquiátricos e pessoas insanas nunca passaram uma boa impressão para nós, pessoas consideradas "sãs" (apesar de neuróticos por natureza). Mesmo os profissionais dispostos a fazerem o bem nessas instituições e/ou pacientes, geralmente são associados, ainda hoje, a jalecos brancos demais, camisas de força e paredes almofadadas.
Se atualmente, em pleno século XXI, ainda possuímos resquícios dessa imagem talvez há muito ultrapassada, imagine só no longínquo século XIX?
Pior: e como vê tudo isso um paciente insano recém internado em um manicômio dos anos 1800?
É essa a proposta do autor russo de "A flor vermelha", esse rapaz com o nome ~lindo~ de Vsévolod Mikháilovitch Gárchin e que morreu bem jovem, com apenas 33 anos de idade.
Acompanhamos, na história, nosso protagonista, o próprio louco, e seus incessantes delírios aliados a crises violentas que o levaram a uma instituição para doentes mentais.
Gárchin (1855 - 1888) |
A narrativa é simples e mostra a crescente fixação do protagonista em relação a algumas das poucas flores vermelhas presentes no jardim do manicômio. Em seu delírio, ele está preso em um local de tortura da Inquisição e que aquelas flores representam todo o mal no mundo. Sendo assim, é dever dele destrui-las e ser o salvador da pátria.
O estresse ocasionado pela sua "missão", naturalmente, acaba somatizando e ele acaba tendo verdadeiras complicações biológicas e físicas durante o processo.
Gárchin faz, durante todo conto, observações (quase críticas) sobre o fato de que essas instituições simplesmente não têm o manejo necessário para lidar com seus pacientes, uma vez que mesmo pessoas sãs já teriam complicações em um ambiente como aquele.
Isso, juntamente com o fato da narrativa trazer a perspectiva do insano, é o maior trunfo da história.
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FINAL (SPOILER): Após matar as duas primeiras flores vermelhas e ficar extremamente doente nas duas ocasiões, o protagonista consegue a terceira e última. Entretanto, dessa vez ele não sobrevive e acaba sendo enterrado com a flor ainda presa e amassada em suas mãos.
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Apesar de todas as qualidades citadas, senti falta de uma "trama" (não sei se é exatamente essa palavra).
Quer dizer, a história em si poderia ser mantida nas bases em que foi escrita. Entretanto, me parece que ficou um pouco arrastada/longa desnecessariamente, uma vez que a premissa é bem simples e suas partes realmente boas (delírios e perspectiva do louco) não ocupam tanto espaço assim.
Por isso, esse "excesso" poderia, na minha visão, ser utilizado com uma "trama" melhor, talvez incluindo mais incisivamente um médico/enfermeiro do manicômio na decadência do protagonista.
Mesmo assim, uma boa história e que recomendo pra quem gosta e tem alguma experiência com o gênero. ;)
NOTA: 7,5 / 10
LIVRO:
Contos de Horror do Século XIX (2005), organizado por Alberto Manguel. Companhia das Letras. Tradução: conto traduzido por Rubens Figueiredo.
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