quinta-feira, 22 de maio de 2014

DEVANEIO: "O Estrangeiro" e os entrangeiros


http://www.record.com.br/images/livros/livro_yYS7aE.jpgTítulo: "O Estrangeiro"
Título Original: "L'étranger"
Autor: Albert Camus (Argélia) 
Ano de Publicação: 1942
Ano de Publicação no Brasil (esta edição): 2013
Editora: Record
Tradução: Valerie Rumjanek
Número de Páginas: 126



[Só pra constar, não há spoilers nem nada que comprometa significativamente a leitura]   


 



Não adianta: existem certos livros que parecem gritar, clamar, quase exigir uma nova leitura. Isso parece acontecer em diversos momentos, quer dizer, desde o início, o meio e o fim da primeira experiência por aquelas páginas. 


Pode ser por limitações cognitivas ou pela simples ignorância e falta de experiência, talvez, com literatura mais profunda, mas quase sempre que termino um livro com conotação mais filosófica (ou cheio de simbolismos), eu tenho a impressão de que uma nova leitura será inevitável.



Óbvio que isso não ocorrerá logo em seguida; admito que nem mesmo me iludo com a mais leve possibilidade disso acontecer. Mas sim, garanto que vai acontecer.


Pois é, terminei de ler “O Estrangeiro”, de Albert Camus.

  
Desde o início sabia que não seria uma leitura única, afinal, Camus foi considerado o mestre da corrente filosófica chamada (curiosamente) de Absurdismo, uma resposta ao Existencialismo e pareamento ao Niilismo. Além disso, outras coisas me fizeram cogitar isso:


  •   O fato de já ter tentado entender o Absurdismo, sem sucesso nenhum [e só agora que comecei a ter boas noções a respeito]

  •   A presunção do grande jornal francês Le Monde ao chama-lo de “o livro mais importante do século XX”


Ah, claro, “O Estrangeiro” possui um parágrafo de abertura extremamente icônico:


“Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: ‘Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames.’ Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem.”

http://fc08.deviantart.net/fs8/i/2005/279/a/0/Tribute_To_Camus___Meursault_by_Telchine.jpg
Meursault, por Telchine

É dessa forma curiosa que começa a relativamente curta história do protagonista, Meursault, um anti-herói em moldes dostoievskianos. 


E, de fato, é isso mesmo: Meursault não destoaria muito em um mesmo cenário ao lado de Raskólnikov (“Crime e Castigo”) e o Narrador de “Notas do Subsolo”. Uma conversa entre os três talvez resultaria no debate mais intricado e problemático de toda Literatura, mantendo todas navalhas e cordas fora do alcance desses rapazes, por favor, muito obrigado.


Meursault parece apático, neutro, desinteressado e meio irritante, apesar de argumentar de forma interessante de vez em quando. No final, ele parece extremamente sincero. É ainda um pouco confuso para minha mente limitada, mas que aparentemente se encaixa em muitos momentos no Absurdismo construído por Camus.


Já que isso não é bem uma resenha, só acrescento mais algumas considerações: o livro é bom, é curto e eficiente, faz pensar, Meursault me intrigou (apesar de tudo), a narrativa é agradável e poética em muitos pontos, e, por fim, os capítulos finais valem ouro.
 

Bom, 
Kafka terá de ser relido, 
Dostoievski terá de ser relido, 
Camus terá de ser relido 
E essa lista vai aumentar, com certeza. 
Eu vou rever um Raskólnikov em conflito, algum dia. 
Eu vou rever um Narrador quase sufocando em pensamentos, algum dia. 
Eu vou rever um Artista da Fome definhando pela arte, algum dia. 
E Meursault...

É... bem, algum dia. 






Um comentário:

  1. Não conhecia esse autor, mas parece ser muito bom! Adorei a sua resenha :)
    Beijos
    http://www.gemeasescritoras.com

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