sexta-feira, 21 de junho de 2013

CONTO POR CONTO #1: "O Tarn" (Hugh Walpole)

Na Inglaterra, a região dos Lagos Ingleses, mais conhecida como Lake District, é um famoso ponto turístico das regiões montanhosas do Reino Unido. Mas, além disso, o local ficou famoso por suas paisagens que serviram de inspiração para diversos escritores e poetas, os quais ficaram conhecido como "Lake Poets".


Entre eles, estava Hugh Walpole. Apesar de ter nascido na Nova Zelândia, ele viajara para a região em 1923, no mesmo ano em que lançava esse conto. No ano seguinte, ele começaria a morar ali, onde também acabou morrendo em 1941.


Walpole usou a sua experiência na localidade para dar vida ao conto, que se passa também lá:


Fenwick é um escritor fracassado. Na realidade, Fenwick é um fracassado em quase tudo e, por isso, se excluiu do resto do mundo para viver pacificamente em Lake District, apenas com a companhia de sua empregada e das paisagens.


Mas há um motivo (pelo menos de acordo com o próprio Fenwick) das coisas não terem dado certo. Sim. O motivo é o sempre animado Foster, a sua antítese: sempre demonstrando empolgação e, principalmente, uma fama e prestígio literário muito maior que Fenwick. 


A inveja o corrói constantemente até que um dia, para sua surpresa, Foster anuncia uma visita à sua casa em Lake District. Fenwick a aceita e hospeda seu maior inimigo.


Mas Foster não faz ideia de que é tão odiado assim.


Vendo aquela figura detestável ali, perambulando em sua casa, Fenwick toma uma decisão: chama Foster para um passeio antes do anoitecer pela região. Ele aceita e, no caminho, o anfitrião sugere ao hóspede que tomem um caminho para ver um tarn.  


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4a/Red_Tarn,_Lake_District_-_June_2009.jpg
Red Tarn, um dos tarns em Lake District. Achei bonito.
Um tarn é uma espécie de pequeno lago localizado entre montanhas, em um circo, ou seja, uma depressão, um pequeno vale. De fato, Lake District é verdadeiramente repleto de tarns.


Esse, no entanto, de acordo com Fenwick, é especial, é o seu tarn e tem uma profundidade indeterminada.


Ao chegarem lá, a inveja e a fúria tomam Fenwick completamente de assalto e ele, com ajuda do tarn, consegue perpetuar sua vingança contra o coitado Foster.


Assustado, Fenwick volta para casa. Mas algo está estranho. Muito estranho. Enquanto faz seu caminho de volta, ele percebe algo à espreita, algo que parece o seguir.


Alguém o viu fazendo aquilo e está perseguindo-o?


Ou é apenas a adrenalina de ter cometido um ato tão atroz e impensável?


Ou não, talvez?


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FINAL (SPOILER): Após jogar Foster nas profundezas do tarn, Fenwick se vê estranhamente impelido a ficar ali, com seu cúmplice, o pequeno lago. Mas ele deve voltar para que não surjam suspeitas. Mesmo assim, algo parece o acompanhar até quando está em casa e, no meio da noite, ele descobre: o próprio tarn é o que está perseguindo. Aos poucos seu quarto enche-se da água escura e gelada, prendendo-o ao mesmo destino de Foster, afogando-se. No dia seguinte, não há nenhum indício de que algo do tipo ocorrera e o corpo de Fenwick continua na cama, mas agora sem vida.
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http://www.twainquotes.com/UniformEds/HughWalpole.jpg
Hugh Walpole (1884 - 1941)
Opinião: gostei bastante, na realidade. Em alguns momentos pude, de fato, odiar Foster por sua eterna empolgação e por ter "roubado" as oportunidades de Fenwick e "privá-lo" de sua felicidade.


Bem estruturada, com início, meio e fim, a história flui bem e o tarn em si é abordado de forma interessante como uma bela paisagem e um "personagem" profundo/assustador ao mesmo tempo.


O único porém é que, em determinado ponto, o autor dá pistas um tanto quanto "diretas demais" e acaba deixando meio fácil de descobrir as respostas de algumas questões que começam a surgir durante a leitura. (pelo menos foi assim comigo xD)


  
Seria 9 se não fosse por isso.





NOTA: 8,5 / 10





LIVRO:
Contos de Horror do Século XIX (2005), organizado por Alberto Manguel. Companhia das Letras. Tradução: conto traduzido por Bia Abramo.

3 comentários:

  1. Eu achei um dos melhores contos do livro. Acho bacana quando o autor mexe com sentimentos muito humanos, como inveja ou desconfiança. O conto ficou muito bom. Só não entendi muito a alucinação dele, acho que podia ter sido melhor narrado, mas enfim, nota 9. rsrs

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  2. Adooooooooooooooooooro histórias de horror! Principalmente quando os personagens são bem estruturados a ponto de te fazer acreditar naquilo que eles querem, ou fazer você sentir aquilo que eles sentem. Me parece acontecer isso nesse conto, que eu estou louca para ler.
    Como eu sou meio lerdinha pra descobrir as coisas, acho que não vou ter problema não. kkkkkkkkkk
    Um beijo ;*

    Juliana . Oliveira
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    @Julymg2

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